Trilogia "Leonor da Aquitânia" de Elizabeth Chadwick
- Margarida A. Carapinha
- 5 de set. de 2018
- 4 min de leitura
Bem, posso dizer que este foi um ano de estreias no que toca a géneros literários! Sou uma apaixonada por história e, ironicamente, nunca tinha lido nenhum romance histórico. O primeiro que li deixou-me completamente apaixonada pelo género.
Os livros que contam a história de Leonor da Aquitânia compõem uma trilogia, que acompanham Leonor desde os 13 anos até à sua morte. Leonor é uma personagem cheia de garra desde a sua juventude. É uma mulher forte, inteligente que se encontra num meio dominado pelos homens e, por isso, tem de utilizar a inteligência e a arte da subtileza para se fazer valer. Sabem aquelas personagens que vos marcam para sempre?? Pois, a Leonor foi uma delas...
É certo que é algo difícil termos 100% de certezas sobre os acontecimentos da idade média, muito menos acerca daquelas que envolvem a vida de uma mulher, mesmo que essa mulher seja a rainha. No entanto, gosto de pensar que Leonor era uma mulher tão forte quanto a personagem do livro. Aliás, a autora brinda-nos com uma bibliografia bastante extensa. Devo salientar que há relatos de que Leonor era versada em diversas línguas e possuía uma grande inteligência. Um facto acerca do qual não há certezas, e a própria autora realça-o, é relativamente à aparência física de Leonor uma vez que a arte da pintura ainda não tinha conhecido grandes inovações técnicas.
Tudo aquilo que Leonor passou exigiu uma capacidade de resiliência enorme! Casar com 13 anos, tentar várias e várias vezes gerar um herdeiro, submeter-se à autoridade da sogra (bem, parece que desde a idade média que as sogras nos gostam de fazer a vida negra...), lidar com o fervor religioso do seu marido, viajar até ao império otomano em plena Europa medieval, tomar conta de uma irmã propensa a alguns problemas (digamos que Petronilha era uma femme fatale)... Tudo isto sendo ela bastante jovem. Ao longo dos livros conseguimos ver a inteligência e capacidade de estratégia de Leonor aprimorarem-se substancialmente, enquanto lida com um novo casamento, com um prol crescente e com lutas territoriais entre França e Inglaterra.
Leonor começa por ser uma jovem algo inocente que após a morte do seu pai se vê obrigada a casar com o rei de França. É importante salientar que Leonor é a herdeira de um importante ducado chamado Aquitânia, o que a torna propensa a ser raptada e forçada a casar com alguém que queira apoderar-se do ducado. Assim sendo, casar-se com Luís torna-se a opção mais segura. A princípio o casamento parece poder resultar, uma vez que ambos são bastante jovens e inocentes. Com o passar do tempo as tentativas frustradas de Leonor para dar à luz um herdeiro, o crescente fervor religioso do seu marido e consequente instabilidade mental, as intromissões da sogra e as lutas territoriais fazem com que o casamento se torne insustentável. Apesar de já terem gerado duas filhas, através de certos estratagemas conseguem pedir a anulação do casamento.
Leonor tem que voltar a casar novamente, uma vez que o seu território necessita de ser protegido. Depressa se casa com aquele que viria a ser o futuro rei de Inglaterra. Henrique demonstra ter uma sede de poder ainda maior do que Luís, mas ao mesmo tempo tem um caráter mais forte, que vai mais ao encontro da personalidade de Leonor. É com um sorriso nos lábios que vemos Leonor a gerar herdeiros atrás de herdeiros, o que se tornou “ uma chapada de luva branca” para Luís de França, que entretanto continua a celebrar novos casamentos em busca do tão desejado herdeiro. A sede de poder de Henrique torna Leonor uma verdadeira conciliadora. Aos poucos, a jovem inteligente torna-se numa mulher brilhante capaz de manipular opiniões, decisões e elaborar estratagemas praticamente infalíveis. Mas, Henrique tira-lhe algo que ela tanto prezava: a independência para governar o ducado da Aquitânia. Fazendo de tudo para recuperar o seu poder Leonor acaba por ser presa e só conhece a liberdade novamente quando Henrique morre. Até à sua morte Leonor foi uma mulher que resolvia eficazmente todos os problemas do reino, as lutas entre filhos, viajava numa Europa acidentada e repleta de guerras pelo poder.
Enfim, estas foram apenas as linhas principais da história, para adoçar um pouco o apetite. Há imensas personagens cheias de carácter, romances inesperados, intrigas de corte, manipulações pelo poder… A sério vale a pena ler o livro!
Perceber todos os esquemas por detrás das lutas e das intrigas de corte é, de facto interessante. Mas mais interessante ainda é compreender a forma como as mulheres lutavam. A sua única arma era a delicadeza, a subtileza e, sobretudo, a mente. Eram muitas vezes as mulheres que através de casamentos conciliavam as lutas pelo poder. Influenciavam as amigas para que as mesmas pudessem influenciar os maridos… Se pudesse descrever o livro numa frase diria que se tratava da “ Guerra dos tronos do sexo feminino”.
Tudo neste livro é excelente! A história é brilhante, e o facto de ser verídica torna-a ainda mais interessante. As personagens femininas são fortes, apesar de se esconderem atrás de bordados e vestidos. E, acima de tudo podemos dizer que Leonor é uma mulher extraordinariamente influente se tivermos em conta a época em que vive. Admito que me custou um pouco ler o momento da morte de Leonor, mas ao mesmo tempo deixou-me com um sentimento de alma cheia, uma vez que Leonor viveu uma vida tão plena e com dignidade.
A parte “má” de me ter iniciado com Leonor da Aquitânia nos romances históricos é que até agora ainda nenhum outro livro conseguiu superar esta trilogia. Já li romances históricos muito bons, mas nenhum conseguiu “chegar aos calcanhares” da minha querida Leonor.
Admito que pode ser um pouco difícil gostar da idade média pela sua multiplicidade de poderes, conflitos e pelo facto de estar associada à idade das trevas. Mas devo salientar que é um período maravilhoso e que , por vezes, está associado a mitos que não são verdadeiros. Ler a trilogia de Leonor é também ganhar o gosto à idade medieval e aprender a compreendê-la um pouco melhor.
Quanto à edição e tradução pode-se dizer que está excelente! Não me lembro de ter encontrado gafes de ortografia ou tradução. Os livros também nos brindam com mapas e árvores genealógicas que se tornam bastante úteis. As capas dos livros estão maravilhosas ( a minha favorita é a do segundo livro). Aliás todos os livros da Topseller têm tido capas absolutamente extraordinárias!
Sem dúvida esta trilogia é o meu romance histórico favorito! A história, as personagens e o carácter de Leonor fazem destes livros um romance excepcional!

Boas leituras!
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